26 maio 2010

PAR

PAR
por Alexandre Machado em 07/Ago/1983









Noite fechada
Clarão de lua
Ventos-pessoas
Varrendo a rua
Alegria,
Gravei teu nome no meu coração.
Nem o tempo
Vai apagar teu nome da canção.
Ah, que lindo!
Foi como a brisa carinhando o mar.
Muito obrigado, Aline,
Por teres sido meu par!
Muito obrigado, Aline,
Por seres o meu par!
A gente pula
A gente dança
A gente corre
Feito criança
A alegria
É uma lembrança que se guarda bem.
A saudade
É a esperança de rever alguém.
A tristeza
Não pode haver num coração que amou.
Aline é um anjo que caiu do céu
E foi pousando no meu coração.
Aline é um anjo que caiu do céu
E foi ficando no meu coração.
Manhã deserta
Ao despertar
Sorriso aberto
Vindo do mar


Praia de Piratininga, Niterói, RJ

Essa é uma música muito especial para mim. Foi um presente de aniversário involuntário, que recebi há quase 27 anos. E só há poucos dias pude conhecer a história completa existente por trás dela. Se você quiser conhecer essa história também, visite o blog do autor, Alexandre Machado, aqui: http://aletextos.blogspot.com/2010/04/historico-de-par.html.

A música fala sobre uma festa junina e um par totalmente improvável. E já que recebi essa homenagem tão linda, feita como agradecimento a nem sei bem o quê, quero fazer também meu agradecimento e minha homenagem a quem, sem nem saber, me deu tanta felicidade.

Imagina, uma menininha de 10 anos, que se sentia insignificante, invisível [já falei no post anterior sobre como só a dança me salvava. E agora percebo que, não por coincidência, foi através de uma dança que sensibilizei o coração do meu par. Vejam só, a dança salvou dois de uma só vez...] Retomando de onde parei, imagina essa menininha de repente, no seu aniversário de 11 anos, receber de presente uma poesia; não, mais que uma poesia, uma música! O maior presente talvez não tenha sido a música em si, mas o fato de ser notada, de ser significativa a ponto de inspirar algo tão bonito. E ainda por cima, por um rapaz de 17 ou 18 anos!

Guardei o papel de caderno com a letra escrita, naquela caixinha com as boas memórias de infância e adolescência. Mas, estando há alguns anos com boa parte das minhas coisas encaixotadas, esperando o dia de ter minha própria casa outra vez, não sei mais onde estão guardadas essas memórias. De vez em quando tentava lembrar da letra, com saudade, mas não conseguia.

Quando lancei meu novo portal para assuntos de trabalho, tive a feliz surpresa de receber o cadastro do Alexandre. Como é que ele foi parar no meu site? Ainda não sei.

E ele, que nem sabia se o presente me tinha sido entregue há 27 anos, colocou a letra e a história no blog dele. Mas não me avisou. Ainda bem que eu fui lá fuçar e sem querer encontrei! Acho que alguma parte dele ainda se enganava como a minha menininha, se julgando insignificante. E assim, novamente sem saber, me deu o mesmo presente pela segunda vez!

Obrigada, Woody!

Praia de Piratininga, Niterói, RJ
Fotos: praia de Piratininga, Niterói, RJ, por Aline Mendes

24 maio 2010

Não vivo sem bailar

Astrid Fonenelle disse uma vez, numa entrevista, que tem propensão genética para a alegria. Pois eu e uma irmã herdamos da família do meu pai uma propensão genética pra depressão, que nos obriga a estar sempre alertas.

Eu comecei a fazer balé moderno aos 9 anos, depois passei pro jazz, e só parei quando comecei a estagiar, lá pelos 19 anos. E digo que foi a dança que me permitiu crescer de uma maneira "normal". Na dança eu dava vazão à minha emoção, que ficava reprimida o resto do tempo todo. Imagina como seria sem ela! Minha estrutura corporal é muito mais adequada para a natação, por exemplo, que também fiz durante alguns anos. Mas para a dança, o corpo não ajudava nada. Os braços super flexíveis, mas as pernas, flexibilidade zero. Esforço máximo para progressos mínimos. Mesmo assim, a alegria que me dava era o que importava. (Ainda bem que, pelo menos, ritmo nunca faltou...)

Depois, fiquei um longo tempo sem dançar, pulando de galho em galho, mudando de uma atividade física pra outra sem tanto entusiasmo. De algumas eu até gostava, mas sem a sensação de prazer e realização da dança. Sem nutrir a alma...

Ensaio para o espetáculo Baco em 2009Nesse meio tempo, tive três filhos e, na primeira gravidez, uma depressão pós parto não identificada que se estendeu por anos, camuflada, até que nasceu o terceiro filho e logo depois me divorciei. Seguiram-se quatro anos de terapia, que me ajudou muito e que, não por coincidência, parei exatamente quando voltei a dançar.

Ensaio para o espetáculo Baco em 2009Isso foi em 2008 e, dessa vez, me encontrei com a dança flamenca. Foi juntar a fome e a vontade de comer. Desde que estudava espanhol lá na Casa D'Espanha, que ficava olhando a aula de dança espanhola, morrendo de vontade de participar. Agora, consegui unir duas grandes paixões da minha vida: a dança + a língua espanhola (e a música!). E a melhor notícia: o flamenco não exige grande flexibilidade das pernas! Maravilha! Precisa, sim, domínio dos movimentos, ritmo e habilidade, mas não tem aquelas jogadas de perna pro alto como no balé e no jazz.

E por que eu resolvi falar disso justo agora? É porque este ano, o volume de trabalho cresceu tanto, que ocupou quase todos os espaços disponíveis e não disponíveis. E com isso quase não dancei nos últimos meses. Resultado: sem dança, a depressão resolveu mostrar as caras de novo, sob a forma de um cansaço irremediável. Mas, sempre tem algo que nos salva, e maio é o mês em que os bailaores espanhóis resolvem baixar a terras tropicais para dar seus cursos. Nesse movimento, resolvi tomar as rédeas da agenda lotada e abri espaço para as oficinas de flamenco no Centro Coreográfico. Foi a melhor coisa que fiz! O ânimo já estava melhorando desde o começo do mês, com um excelente dia das mães em família. Somando as aulas de flamenco e o contato com o grupo, estou feliz, feliz de novo!






Baco, o Deus do Vinho - Teatro Ipanema - Dez 2009
Cia Garcia Danza Flamenca
(sou a primeira a aparecer no vídeo, à direita)

02 maio 2010

Crianças e Brócolis

Quem me conhece sabe que me orgulho de que meus filhos sejam meio ETs, como eu. Outro dia meu filho me deu uma aula de como a casa do vizinho, de telhado pontiagudo, era boa pra igrejas, que se conectam com o céu, mas que não era boa pra casa de morar. Quando perguntei onde ele tinha aprendido isso, ele respondeu que eu ensinei. Nem me lembrava! Mas ele aprendeu direitinho.

Foodscapes - Carl Warner

Hoje fomos com as crianças a um restaurante natural. Rafinha (7) comeu um prato de 450g em menos de 5 minutos. Foi o tempo que eu levei pra fazer meu prato e voltar, e ele já estava na última garfada. Acho que não era só fome.

Quando tínhamos a nossa casa, onde eu escolhia o cardápio e a maneira de preparar as comidas, ele era assim. Comia muito, rápido, com entusiasmo e apetite.

Aqui na casa da avó, onde estamos morando, as refeições são um parto. Tenho que ficar insistindo, enchendo o saco mesmo, pra ele comer um pratinho de nada.

Aí me lembrei que temos o paladar muito parecido, e que eu, quando pequena, quase não comia (a comida da casa da minha mãe). Quando cresci e descobri que havia comidas diferentes e maneiras diferentes de preparar a comida, foi que comecei a gostar de comer "comida de verdade". Antes, eu odiava, tinha nojo, queria ser astronauta e me alimentar de pílulas. Minhas irmãs diziam que eu vivia de fotossíntese. Isso porque elas ainda não tinham ouvido falar em prana...

Eu gosto de saladas coloridas e bem variadas. Sempre que vejo o tal anúncio do menino pedindo brócolis no supermercado, me lembro dos meus filhos. Os dois maiores adoram brócolis. O caçula gosta de broto de alfafa.

Depois que me separei, meu ex-marido voltou a seguir uma dieta, digamos, não tão saudável. E se readaptou ao padrão de crianças que não gostam de legumes e verduras.

Um dia meu filho foi comer na casa da avó paterna e, quando o pai acabou de colocar a comida no seu prato, ele ficou revoltado por que o pai não tinha colocado vagem. Brigou, exigiu a vagem, e quando voltou pra casa veio me contar, indignado.

Ah, meus queridos ETs comedores de coisas verdes! Espero em breve poder voltar a oferecer comida de marciano pra vocês!

A qualquer hora volto aqui pra contar a terrível história do "verdinho" da minha infância...