24 maio 2010

Não vivo sem bailar

Astrid Fonenelle disse uma vez, numa entrevista, que tem propensão genética para a alegria. Pois eu e uma irmã herdamos da família do meu pai uma propensão genética pra depressão, que nos obriga a estar sempre alertas.

Eu comecei a fazer balé moderno aos 9 anos, depois passei pro jazz, e só parei quando comecei a estagiar, lá pelos 19 anos. E digo que foi a dança que me permitiu crescer de uma maneira "normal". Na dança eu dava vazão à minha emoção, que ficava reprimida o resto do tempo todo. Imagina como seria sem ela! Minha estrutura corporal é muito mais adequada para a natação, por exemplo, que também fiz durante alguns anos. Mas para a dança, o corpo não ajudava nada. Os braços super flexíveis, mas as pernas, flexibilidade zero. Esforço máximo para progressos mínimos. Mesmo assim, a alegria que me dava era o que importava. (Ainda bem que, pelo menos, ritmo nunca faltou...)

Depois, fiquei um longo tempo sem dançar, pulando de galho em galho, mudando de uma atividade física pra outra sem tanto entusiasmo. De algumas eu até gostava, mas sem a sensação de prazer e realização da dança. Sem nutrir a alma...

Ensaio para o espetáculo Baco em 2009Nesse meio tempo, tive três filhos e, na primeira gravidez, uma depressão pós parto não identificada que se estendeu por anos, camuflada, até que nasceu o terceiro filho e logo depois me divorciei. Seguiram-se quatro anos de terapia, que me ajudou muito e que, não por coincidência, parei exatamente quando voltei a dançar.

Ensaio para o espetáculo Baco em 2009Isso foi em 2008 e, dessa vez, me encontrei com a dança flamenca. Foi juntar a fome e a vontade de comer. Desde que estudava espanhol lá na Casa D'Espanha, que ficava olhando a aula de dança espanhola, morrendo de vontade de participar. Agora, consegui unir duas grandes paixões da minha vida: a dança + a língua espanhola (e a música!). E a melhor notícia: o flamenco não exige grande flexibilidade das pernas! Maravilha! Precisa, sim, domínio dos movimentos, ritmo e habilidade, mas não tem aquelas jogadas de perna pro alto como no balé e no jazz.

E por que eu resolvi falar disso justo agora? É porque este ano, o volume de trabalho cresceu tanto, que ocupou quase todos os espaços disponíveis e não disponíveis. E com isso quase não dancei nos últimos meses. Resultado: sem dança, a depressão resolveu mostrar as caras de novo, sob a forma de um cansaço irremediável. Mas, sempre tem algo que nos salva, e maio é o mês em que os bailaores espanhóis resolvem baixar a terras tropicais para dar seus cursos. Nesse movimento, resolvi tomar as rédeas da agenda lotada e abri espaço para as oficinas de flamenco no Centro Coreográfico. Foi a melhor coisa que fiz! O ânimo já estava melhorando desde o começo do mês, com um excelente dia das mães em família. Somando as aulas de flamenco e o contato com o grupo, estou feliz, feliz de novo!






Baco, o Deus do Vinho - Teatro Ipanema - Dez 2009
Cia Garcia Danza Flamenca
(sou a primeira a aparecer no vídeo, à direita)

6 comentários:

Alexandre Machado disse...

Pô, Aline, até tu?! :)
Eu tmb tenho uma certa tendência à depressão (aliás estou numa pequena...)
Mas assim como a dança te ajuda, eu tmb tenho uma arte pra me ajudar a passar pelas agruras da vida: a música. Quando a coisa tá "braba", eu pego o violão e deixo a emoção fluir...
Beijos e força nas pernas! :D

mae.de.tres disse...

Dizem que a depressão é um dos males do século.
Quem mandou, né, o mundo virar capitalista!

Alexandre Machado disse...

rsrsrs

Mon Liu disse...

Oi, Mãe.de.Três! Adorei o texto, amiga! (risos)

mae.de.tres disse...

Oi Mon Liu.
Obrigada pela visita! Que bom que gostou. Sempre espero que meus textos sejam úteis a alguém.
Sabia que, em família, meu apelido é Liu?
Abraço!

PAR « mãe.de.três disse...

[...] uma menininha de 10 anos, que se sentia insignificante, invisível [já falei no post anterior sobre como só a dança me salvava. E agora percebo que, não por coincidência, foi através de [...]